23/12/2007

O meu postal de Natal:

Para todos os que se preocupam, para todos aqueles com quem me preocupo, para os que respeito, admiro... Para todos aqueles de quem gosto realmente: amigos, família, "mais-que-tudo" (que é um bocadinho dos dois e mais qualquer coisa... :) ), colegas, conhecidos...

Feliz Natal! ***

18/12/2007

Frio...

Hoje consegui ganhar coragem para me sentar calmamente, nesta sala gelada, único sítio da casa onde é provável ter rede suficiente para postar qualquer coisinha.

Este blog está a precisar de um bocadinho mais de interacção com as pouquíssimas pessoas que o frequentam (comentários, portanto). Parece-me que também não tenho abordado temas que o possibilitem. Anyway, a intenção era mais servir de espaço de desabafo - o local onde é possível deixar muito do que vai na minha cabeça. Até que ponto isso é possível, já é um pouco questionável.

E o que é que tem andado na minha cabeça?! Tudo e mais alguma coisa...

Primeiro: a quantidade de trabalho e o que isso acarreta. Verifico, em jeito de desilusão, que a responsabilidade de muita gente é praticamente nula. E essa "muita gente", que só olha para o seu umbigo, não pensa nos colegas, não respeita os professores e sobretudo, não mede aquilo que diz. Pessoas na casa dos 20, não são garotos inconsequentes, são pessoas que daqui a um ano estarão no mercado de trabalho, com responsabilidades... (assustador!). E ver as coisas desta forma, faz-me pensar na geração dos nossos pais: amadurecia-se mais cedo, tinha-se responsabilidades mais cedo. Hoje aprende-se muito mais, muito mais cedo, mas a sabedoria, o respeito e a maturidade vêm muito mais tarde.

Segundo: O que de mais humano podemos ter: os sentimentos. E esses podem ser devastadores, porque ao contrário de muitas coisas na nossa vida, não podem ser controlados.
Um dia disseram-me:

"Tens muito para viver. A melhor forma de aproveitar isso, é colocar amor em tudo aquilo que fizeres..."
Acredito... de tal forma que nunca mais me esqueci disso...

08/12/2007

...


... "Porque é que insistimos em falar em comodismo, quando nos referimos a situações que não passam mesmo por aí? Esse comodismo de que falamos, não será apenas querermo-nos manter como estamos, porque simplesmente estamos bem?!"

Eu digo que sim... e sendo assim, a felicidade passa por alguns "comodismos"... :)

Bom fim-de-semana!

25/11/2007

O Guardador de Rebanhos - XXIX

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De, que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.


Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés -
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...


Alberto Caeiro

24/11/2007

Sail The Moon

Quando se mexe no baú, encontram-se verdadeiras pérolas...

7 Palmos de Terra

Tenho saudades desta série...





18/11/2007

O Guardador de Rebanhos - XXI

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...


Alberto Caeiro

13/11/2007

No sofá...

E porque estou no sofá, sítio onde ocorrem pensamentos vagos, achei que valia a pena passar e deixar umas linhas com o pouco que me tem ocupado a mente...

Futuro: a vida no mercado de trabalho aproxima-se. Há, no entanto, mais uma etapa a percorrer: o final do semestre e a dissertação final. Questiono-me se condicionará o meu futuro. Questiono-me acerca do futuro de trabalho que me espera... Começa a traçar-se uma linha condutora, construída por mim, mas com algumas condicionantes. Acho que é um misto de nervosismo com a espectativa de trabalhar na área que realmente gosto... Diria entusiasmo... :)

Amizades: Há coisas que se ultrapassam e coisas que nem por isso. Situações que não ignoramos, mas às quais, para o nosso bem estar, deixamos de reagir.

Tu: É mais um NÓS... :)

Balanço final: Com dores de cabeça ao final do dia, algum cansaço, mas posso dizer que feliz... Afinal, o que é a felicidade senão isso mesmo: poder sorrir no meio da barafunda que nos turva o espírito...

Boa semana!

07/11/2007

Fairground! :)

Driving down an endless road
Taking friends or moving alone
Pleasure at the fairground on the way

It's always friends that feel so good
Let's make amends like all good men should
Pleasure at the fairground on the way

Walk around, be free and roam
There's always someone leaving alone
Pleasure at the fairground on the way

And I love the thought of coming home to you
Even if I know we can't make it
I love the thought of giving hope to you
Just a little ray of light shining through

Love can bend and breathe alone
Until the end it finds you a home
Don't care what the people may say

It's always friends that feel so good
Let's make amends like all good men should
Pleasure at the fairground on the way

And I love the thought of coming home to you
Even if I know we can't make it
I love the thought of giving hope to you
Just a little ray of light shining through

Simply Red

Espectacular! Videoclip de época, mas a música é muito boa! ;)

03/11/2007

The Sweetest Thing!

Porque hoje tenho vontade de esquecer todas as coisas más, porque esta música me deixou com um sorriso... :) Love's the sweetest thing! (Sim, eu sei que já tinha colocado este vídeo em tempos, mas é sempre bom relembrar...)

Bom Fim-de-Semana!

28/10/2007

Tu Mudaste a Natureza...

Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor — Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.

Alberto Caeiro

Amigos...

Há uma série de questões que se têm colocado nos últimos tempos. Há amigos e Amigos; Há os que julgamos que são Amigos, os que são realmente Amigos e aqueles que nos deixam na dúvida, porque colocam em causa uma série de intenções da nossa parte.

Até que ponto devemos/podemos interferir na vida dos nossos amigos? Até que ponto devemos dar o que podemos dar, até onde podemos mostrar tudo o que somos?


Até que ponto nos devemos preocupar com este tipo de questões, quando a preocupação só parte de nós?


São apenas dúvidas, porque há uma resposta lógica para todas elas. No entanto, quando há sentimentos em causa, a lógica pode deixar de existir, e contrariamos uma série de principios para agirmos de acordo com a mesma...


Esperam-se dias melhores...

24/10/2007

He walks you say sit down it's just a talk

Step one you say we need to talk
He walks you say sit down it's just a talk
He smiles politely back at you
You stare politely right on through
Some sort of window to your right
As he goes left and you stay right
Between the lines of fear and blame
And you begin to wonder why you came

Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life

Let him know that you know best
Cause after all you do know best
Try to slip past his defense
Without granting innocence
Lay down a list of what is wrong
The things you've told him all along
And pray to God he hears you
And pray to God he hears you

Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life

As he begins to raise his voice
You lower yours and grant him one last choice
Drive until you lose the road
Or break with the ones you've followed
He will do one of two things
He will admit to everything
Or he'll say he's just not the same
And you'll begin to wonder why you came

Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life

The Fray - How To Save a Life

20/10/2007

Guardador de Rebanhos - II

"O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do mundo...

Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo. Mas não penso nele

Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,

E a única inocência não pensar..."


Alberto Caeiro

Bom Fim-de-Semana!

(e eu bem preciso de um desses...)

07/10/2007

Mar Adentro...

Respiro fundo... Angustiante, clarificador, puro, profundo... são características que dificilmente atribuímos a um filme. Supreendentemente realista e humano, é assim o filme de Alejandro Amenábar, com Javier Bardem como Ramón Sampedro.






06/10/2007

Balançar...

Raramente me vejo com tranquilidade. Por vezes, vivo debaixo de um típico céu de Inverno, carregado, na iminência de desabar numa bátega... sinto-te descontente com tudo e com todos, sobretudo comigo.

Frequentemente mereço puxões-de-orelhas, porque raramente tenho razão no que penso acerca de mim e daqueles que me rodeiam. Tenho tanto e parece que valorizo tão pouco...

Temo ficar/estar só, mas cada vez mais porque não aceito a minha presença como ela é, sobretudo quando deixei de ter motivos para não acreditar em mim...

Parece que ao fim de tanto tempo, tenho que aprender a viver comigo... tenho que aprender a não me refugiar na presença dos outros... relativizar a minha presença nas suas vidas... aprender a ser eu.
Caminhada dura... tarefa que não posso dividir com ninguém...

Quanto a ti, és o meu "Porto-de-abrigo"... e sei que imaginas o que isso significa para mim...



05/10/2007

Feist...


"Honey Honey"
Honey honey up in the trees
Fields of flowers deep in his dreams
Lead them out to sea by theast
Honey honey food for the bees

Honey honey out on the sea
In the doldrums thinking of me
Me on dry land thinking of he
Honey honey not next to me

Even if he wanted to
Even if he wanted to
Even if he wanted to
Do you think he'd come back
Would he come back

Oh no..

Honey honey out on the sea
In the doldrums waiting for me
Me in my boat searching for he
Honey honey food for the bees

22/09/2007

"Until The End"


You've got a famous last name
But you're not to blame
Baby I see you for who you are

A one time apple queen,
And a one time tramp,
And an old time movie star.

You're a shell picker,
Of the pickiest kind,
But you always find the ones to keep.

And in or out of bed,
You keep you're head wide open,
'cause ya don't only dream when you're asleep.

Like a child ... you remember,
But I forget ... all my dreams.

I used to think,
That someday I'd relax a little,
And be more like you.

Then I realized,
How silly that thought was,
Needed to stand in my own shoes.

And from over here,
I can see you cry,
Don't even try ... to pretend.

'cause he's hurt you,
So many times,
Baby don't go back again.

Like a child, you forget,
But I remember everything..and every sting.

And through all the games,
We'll both stay the same,
As we've always been,
Through the fat and thin,
Until the end,
Until the end.
Norah Jones

Pensar...

"Deste modo ou daquele modo.
Conforme calha ou não calha,
Podendo às vezes dizer o que penso,
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
Vou escrevendo os meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma coisa feita de gestos,
Como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora.

Procuro dizer o que sinto
Sem pensar em que o sinto.
Procuro encostar as palavras à ideia
E não precisar dum corredor
Do pensamento para as palavras

Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.

Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.

E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
E assim escrevo, ora bem ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá,
Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.

Ainda assim, sou alguém.
Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio.

Isto sinto e isto escrevo
Perfeitamente sabedor e sem que não veja
Que são cinco horas do amanhecer
E que o sol, que ainda não mostrou a cabeça
Por cima do muro do horizonte,
Ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos
Agarrando o cimo do muro
Do horizonte cheio de montes baixos."

Alberto Caeiro

Senti-me assim esta semana... sem vontade de pensar. Tudo porque grande parte do pensamento que me ocupa é inútil, desnecessário, prejudicial. É reconfortante saber que houve alguém que sentiu o mesmo e que o descreveu numa ordem de palavras que faz sentido.

15/09/2007

Simon & Garfunkel...

Fizeste com que começasse a ouvir e a apreciar... Fiquei fã, vá! Com a desejada "Pão-de-Forma", seriamos os verdadeiros Hippies... :)

08/09/2007

Amiga...

Passaram poucas horas desde que deixaste Faro rumo a Estocolmo e, apesar de não estar contigo com a frequência que gostaria nos últimos tempos, sinto a tua falta, talvez porque antecipe indevidamente os meses que se seguem. Não sei quantos serão... não sei se te verei no Natal... Sei que falaremos muitas vezes na net, prometo enviar cartas, tal como pediste. Sei que nada disto te vai trazer para a mesa de café em que temos longas conversas, em que o tempo parece pouco para falarmos do que nos vai na alma... Mas será breve. Afinal é um ano em que apenas estarás fisicamente longe.

Continuaremos a falar; continuarei a pensar em ti: continuarei a lembrar-me da adolescência que vivemos juntas; das conversas que tinhamos durante as aulas, em pequenos papelinhos rasgados do caderno (e que ainda hoje guardo religiosamente); da nossa boa disposição, nas aulas de Inglês da "Miss Morgan"... :) e tantas coisas! E são as memórias o que melhor guardo de ti. Memórias de uma amizade incondicional, que, mesmo 5 anos após o afastamento que não pudemos controlar, se manteve.

Não te dei uma lembrança que levasses contigo para a Suécia... Pensei em escrever algo num postal, mas seria pouco. Um post no blog, dedicado a ti, e publicado para o mundo inteiro pareceu-me insuficiente: não transmite a vastidão do sentimento que tenho por ti. No entanto, dá uma ideia do respeito, do carinho, da amizade que nos une.


Obrigada por tudo, amiga... e muita sorte para o teu futuro brilhante! :)

(Sim, já deixei a fase da negação... )

Pavarotti...

Faleceu aos 72... Deixou-nos a sua voz única, que transmite emoções de uma forma límpida e profunda.

"Una furtiva Lagrima"

"It's a Man's World"

07/09/2007

Verão 99

"Há vários indícios seguros da chegada do Verão. Espero-os sempre, atento e ansioso, porque preciso do Verão, desesperadamente. O primeiro indício são as meloas do Algarve e o seu sabor único, irreproduzível. Depois, são algumas manhãs de Lisboa, com uma espuma marítima suspensa sobre a claridade do dia e, à noite, os sons da cidade que passam de bairro em bairro, a vizinha que chama o filho, o cão que ladra, o táxi na esquina, uma música que vem de lugar oculto. Em Junho as mulheres começam-se a despir por partes e os pássaros vêm morrer de encontro ao pára-brisas do carro na estrada, porque eu vou mais depressa do que o seu voo pesado. No campo, instala-se um ruído de fundo que é o das cigarras gritando de calor, e, ao fim do dia, oiço as árvores estalar de alívio.

Na primeira noite de Verão, estendo uma rede nordestina no terraço e deito-me para dormir lá fora, deixando uma vela a arder dentro de uma lanterna marroquina, porque atrai os mosquitos para a luz e porque o terraço parece ficar um lugar encantado. E vou adormecendo aos poucos na rede, como um cão adormece, com um olho aberto e outro fechado, nesse prazer prolongado de habitar entre duas fronteiras, a do sono e a da vida.

No outro dia, tinha acabado de adormecer na rede, quando um ligeiro ruído do terraço, melhor dizendo, uma presença pressentida, me despertou, sem me sobressaltar: no campo, habituamo-nos aos ruídos nocturnos inesperados: a dez metros de mim, estática e surpreendida, uma lebre contemplava-me como quem contempla um intruso em casa própria. "Olá, lebre, boa noite!", disse-lhe eu, ensaiando uma intimidade que lhe deve ter parecido abusiva. Ela olhou para mim sem se mexer, depois olhou para a luz da vela, deve ter concluido que o terraço estava ocupado, deu meia-volta e partiu aos saltos, não pé ante pé: não seria lebre não seria nada, se não tem partido à desfilada. Voltei a adormecer e voltei a acordar daí a pouco, desta vez despertado por um longínquo zumbido no céu: um avião, de luzes a piscar, circulava no meio das estrelas, entre Cassiopeia e Orion. Imaginei os passageiros enrolados em mantas, suspensos do mundo a dez mil metros de altitude, fechados naquele prodígio de aço e no seu destino nocturno. Tudo me pareceram indícios de que o mundo estava em paz, sinal seguro da chegada do Verão. Voltei a adormecer até de manhã, até que o sol me bateu na cara e uma gota de suor me escorreu pelos olhos abaixo.

Espremi um sumo de limão para um copo cheio de gelo, espreguicei-me até sentir que os membros voltavam todos à posição normal e caminhei até ao ribeiro que, nesta altura do ano, tinha só dois palmos de água, mas transparente, no seu leito de pedras, areia e plantas aquáticas. Descalço, mas vestido tal como tinha adormecido e acordado, deixei-me cair lá dentro, com a cara contra as pedras e os olhos bem abertos, como se assim me pudesse transformar em peixe. Virei-me ainda de costas e fiquei a sentir a água a correr entre os cabelos, recebendo na cara o primeiro sol da manhã como a faca que passa a manteiga pelo pão.

Por mais que tente explicar-te tantas e tantas vezes, nunca te direi vezes que cheguem como é bom estar vivo."

in "Não te Deixarei Morrer, David Crocket" de Miguel Sousa Tavares

Porque é o rescaldo do Verão, porque lembra o Alentejo e porque descreve sensações de forma sublime...

03/09/2007

Alentejo...

2 Dias, muito sol, amigos... Muito bom! :)

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29/08/2007

22...

...com defeitos e muito para aprender, mas olhando para trás com orgulho no que sou, nos meus princípios e no que aprendo todos os dias com aqueles que me rodeiam...

Obrigado!!!

27/08/2007

Salamanca

Bela cidade... Desde a Plaza Mayor até à Catedral Nova, esta cidade de estudantes tem realmente muito que conhecer. No entanto, deixo apenas o postal da praxe, porque estou cansadota demais para escrever... :)

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22/08/2007

Encontro

"Pela primeira vez desde há muitos, muitos anos, era um dia da semana, de um mês - Junho - que não era ainda de férias mas já era de Verão, e eu estava deitado na areia da praia, quase deserta, com a serra por detrás e um mar translúcido à minha frente, saboreando cada uma das sílabas dessa palavra: de-sem-pre-ga-do. Caminhei até à água, que surpreendentemente não estava fria e era densa e transparente, e mergulhei lá dentro como se entrasse noutro mundo: vinte anos de errância, de erros e ignorância, vinte anos equívocos, afundavam-se agora, devagar, rente à areia e às pedras, no olhar q seguia a sombra fugidia dos peixes e, afinal, tudo se tornava claro e envolvente na luz que chegava filtrada três metros debaixo de água.

E, todavia, eu sempre o soubera: sempre, sempre, me procurei debaixo de água, sempre, em cada Verão, mergulhei nesta luz e neste silêncio, apalpando com as mãos as rochas e as pedras, alisando o dorso dos peixes e a suavidade de veludo das algas e das anémonas, os meus olhos atentos e deslumbrados com cada coisa, o corpo habituando-se à consistência desta liquidez submersa. Sempre soube que debaixo de água me livraria de todos os males do mundo e emergia, novo e liberto, para as suas ciladas e os seus enganos.

Sentei-me depois na esplanada à beira-mar, os olhos pesados de sal e de azul, eu, uma sangria e uma dose de sardinhas assadas, um cheiro a giesta e a medronho que vinha da serra e nada mais - ninguém, nenhum som, nenhuma recordação, nenhuma ameaça, entre mim e a perfeição deste momento.

E lembrei-me de ti, com ternura (ou seria paixão?). A palma das tuas mãos, a pele dos teus pulsos, os dedos esguios e longos, os dentes brancos num sorriso meio tímido, meio atrevido, o teu riso, o teu humor, a tua inteligência cristalina. Pensei telefonar-te, mas estas coisas não se dizem pelo telefone. Guardei-te para mais tarde, para quando os teus olhos pousassem sobre mim, para quando a tua mão me limpasse o suor da testa, a tua boca limpasse os vestígios de sal da minha pele.

Em vão, como vês, me esforcei por não me distrair. Para passar por ti como se passa por um episódio, por um acidente à beira da estrada, por uma ilusão de água num mar sem fim de areia. Eu queria só a solidão da solidão, o silêncio submerso dos dias vazios e sem destino, a consistência da água e a evidência das pedras. Eu queria um mundo sem ti nem ninguém mais, uma vida - tão merecida - feita de egoísmo e de instantes impartilháveis. Mas tu és como a anémona que segue a corrente que passa, tu és a lapa presa à rocha, o sulco na areia durante a maré vazia que indica o caminho de regresso ao mar, tu és a densidade da água dentro da qual eu me reencontro e reconstruo.

Assim, saí da esplanada, sentei-me "ao volante do meu Chevrolet" pela estrada da serra e subi até ao convento de onde o mundo inteiro se alcança. Veio-me o desejo de ser monge, ali onde a vida não chega, ou lagarto sobre a pedra onde me sentei. Um desejo absoluto de nada. Olhei ao longe este mar da Grécia e esta luz de eternidade, vi pedras e giestas e pinheiros e golfinhos ao fundo, vi tudo o que me manteve cativo até hoje e toda a liberdade à minha frente, olhei o passado e o futuro, o Norte e o Sul, e levantei os braços para voar sobre tudo isto, mas estava preso. Este Verão é teu."


in "Não Te Deixarei Morrer, David Crocket", de Miguel Sousa Tavares

Porque gostei; porque me fez lembrar de ti...


17/08/2007

"Eternamente"

"E escrevi o teu nome e o teu número de telefone numa página da agenda do mês de Fevereiro. E, ao escrevê-lo, sabia que era uma despedida, mas todo o mês de Março nos arrastámos na despedida, como caranguejos na maré vazia. Sem ti, lancei outras raízes, construí pátios e terraços, fontes cujo som deveria apagar todos os silêncios, plantei um pomar com cheiro a damasco, mandei fazer um banco de cal à roda de uma árvore para olhar as estrelas no céu, um caminho no meio do olival por onde o luar pousaria à noite, abóbadas de tijolo imaginadas pelo mais sábio dos arquitectos e até teias de aranha suspensas do tecto, como se vigiassem a passagem do tempo. Nada disso tu viste, nada te contei, nada é teu. Sozinhos, eu e a aranha pendurada na sua teia, contemplámo-nos longamente, como quem se descobre, como quem se recolhe, como quem se esconde. Foi assim que vi desfilar os anos, as paredes escurecendo, um pó pousado entre as páginas dos mesmos livros que fui lendo, repetidamente. Heathcliff e Catarina Linton destroçados outra vez pela minúcia do tempo.

Como explicar-te como tudo isto se tornou alheio, como tudo te pareceria agora estranho, como nada do que foi teu vigia o teu hipotético regresso? Ulisses não voltará a Ítaca e Penélope alguma desfará de noite a teia que te teceste.

E arranquei a página da agenda com o teu nome e o teu número de telefone. Veio a seguir Abril e depois o Verão. Vi nascer a flor da tramocilha e das buganvílias adormecidas, vi rebentar o azul dos jacarandás em Junho, vi noites de lua cheia em que todos os animais nocturnos se chamavam rãs, corujas e grilos, e um espesso calor sobre a devassidão da cidade. E já nada disto, juro, era teu.

E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter.

Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água do rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.

E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo poderia ser meu para sempre."


in Não Te Deixarei Morrer, David Crocket de Miguel Sousa Tavares


Achei bonito, bem escrito e realista... não por me lembrar algo específico, mas por ir de encontro a muito do que às vezes se sente em relação às coisas e às pessoas.

16/08/2007

30 anos... o Rei do Rock!

Celebra-se hoje o aniversário da morte de Elvis Presley. O ícone dos anos 50-70 marcou para sempre a história do Rock. Dizem muitos que este ainda vive... Bem, quem sabe... :)





Elvis has just left the Building! :)


Que saudadinhas!!!

Hoje, em pesquisas pelo YouTube, tropecei nesta pérola que me deixou com a lagrimita no canto do olho... Estes foram os meus desenhos animados favoritos durante algum tempo... :) De quando em vez ainda paira a música do genérico pela minha cabeça... "Clementine, quand tu fais... blá... blá... blá..." (e aqui a memória falha...) :) Eles até têm episódios completos no YouTube!

... isto:


Era disto que eu falava... (e tu também...) :)

14/08/2007

Privilégio

É um privilégio senti-lo... faz-nos felizes quando sabemos ser recíproco... mexe connosco.

Com ele aprendemos a aproveitar o momento, vemos o mundo com outros olhos; sorrimos sem razão, choramos sem razão... e unicamente porque o sentimos.
Não sabemos muitas vezes lidar com o que ele nos traz, podemos até sofrer por isso... fazer sofrer.
Mas é um sentimento sublime, que nos transcende; que nos preenche; que nos completa; que nos torna mais humanos...

... o Amor.

10/08/2007

Calvin... ;)

Nitin Sawhney

Tarde, mas descoberto a tempo de passar o resto do Verão ao som de boa música... Nitin Sawhney, produtor e compositor que dispõe dos sons do mundo de forma a criar do melhor chillout que já ouvi até hoje...

Autor da banda sonora de diversos filmes, guitarrista flamenco, pianista de jazz e música clássica, Sawhney revela-se artista multifacetado e de talento inigualável. Um trabalho que vale a pena (re)conhecer.


28/07/2007

See You Soon!!!

A mala está pronta, o blog fica em stand by por alguns dias... ;) Boas férias!!!


Monty Python - Duelo Filosófico!

27/07/2007

Harry Potter and The Order Of Phoenix

Quero ir ver!!! :)


Tempo de Mudança

Porquê mudar o blog?


Porque sim...

Porque um blogue com 3 anos precisa de uma aparência renovada...

Porque em 3 anos mudei muita coisa...

Porque é preciso mudar de vez em quando...

Porque me apeteceu...

Gostaram?! :)


25/07/2007

Eu sei que sim... e eu também

Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar.

Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.

Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim."

15/07/2007

Pequenos gestos

"Porque um pequeno gesto hoje, faz a diferença amanhã!"


E é isto o que se faz de bom em Portugal: Publicidade educativa, com muita qualidade! :)


("Estou mais maduro!")




The World In Our Hands...




13/07/2007

...

... puxei o joelho para cima, apoiei o pé no parapeito e subi o resto do corpo.

Tentando não partir uma telha, dei dois passos em frente, de mansinho, e levantei a cabeça... Arrebatador...

Senti-me aos pés do mundo, senti-me pequenina, observei, absorvi e guardei comigo a beleza do céu estrelado de Verão...


07/07/2007

Portugal, Portugal...

Coincidência ou não, a leitura de "Sul" e o facto de ser o dia da eleição das novas 7 Maravilhas do Mundo, ou em linguagem um pouco mais global (ou não) "The 7 New Wonders Of The World", levaram-me a uma única direcção: Portugal.

Relativamente às 7 maravilhas do mundo, não há muito a dizer... Parece-me que mais importante do que tudo isso, é a evolução histórica do mundo, as lutas pacifistas, o que cada um de nós faz para contribuir para uma sociedade melhor. As maravilhas do mundo não são grandes obras, não são grandes personalidades: são as sociedades civilizadas que lutam para melhorar as suas condições de vida e dos que não têm possibilidade de o fazer e que lutam por um desenvolvimento sustentável. Utopias...

Miguel de Sousa Tavares descreve em "Sul" países que já foram colonizados por portugueses, ou que de alguma forma têm a marca da nossa cultura. Talvez neste momento seja difícil ver o nosso cantinho à beira mar plantado desta forma, mas fomos em tempos um povo de grande preserverança e ambição... E no fundo, todos temos muito orgulho nisso.

Fica-se com vontade de viajar sem destino, ou com vários destinos, não deixando no entanto de perceber que foi este o país de princípio de muita coisa, que nos devemos valorizar pelo que fomos e arriscaria dizer, pelo que lutamos para melhorar.


E a sonhar com Viagens, vamos aproveitando as que podemos planear por Portugal!

Coffee and TV

Do you feel like a chain store?

Practically floored
One of many zeros
Kicked around bored

Your ears are full but your empty
Holding out your heart
To people who never really
Care how you are

So give me Coffee and TV
History
I've seen so much
I'm goin blind
And i'm braindead virtualy
Sociability
It's hard enough for me
Take me away from this big bad world
And agree to marry me
So we can start all over again

Do you go to the country
It isn't very far
There's people there who will hurt you
Cos of who you are
Your ears are full of the language
There's wisdom there you're sure
'Til the words start slurring
And you can't find the door

So give me Coffee and TV...

Oh...we could start over again...

Selfish Jean!

Mais um video dos Travis... sem dúvida original... (infelizmente com a qualidade YouTubiana...)

Bom fim-de-semana!!

30/06/2007

The End's Not Near, It's Here

E eis que surge na FOX o último episódio da série "The OC". Uma série que se poderia julgar fútil, vazia, mas que foi muito mais do que isso: mostrou a complexidade das relações humanas, num cesto recheado de valores e carácter.

Para mais pormenores do último episódio: Daily Hotvnews


Emiliana Torrini

A prova que da Islândia vem boa música... Emiliana Torrini, de descendência italiana, lançou o seu primeiro album em 1995.

Li algures num blog perfeitamente desconhecido:

"Quando ouvimos Emiliana Torrini pela primeira vez, com a sua voz doce e frágil - quase adolescente - é quase impossível não nos lembrarmos da sua compatriota Bjork .Ou então de Louise Rhodes, dos Lamb.
Da primeira à última faixa, este "Fisherman's Woman" é um paraíso de tranquilidade. A música de Torrini espraia-se calmamente, sem pressas, num registo que prima pela simplicidade e por uma beleza quase contemplativa. Puro deleite para os ouvidos, digo eu."

Pois... e também descobri que esta senhora cantou uma música da banda sonora do "Senhor dos Anéis", para essa personagem preciosa que era o Gollum e que a "Anatomia de Grey" tem também uma música da sua autoria... Enfim, tenho andado a viver na ignorância... :)

Bom fim-de-semana a todos vós e aos que estão lá em casa!