27/03/2005

Um bocadinho de Fernando Pessoa nunca fez mal a ninguém!

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

25/03/2005

"Shine On You Crazy Diamond (I-V)"

Quando não há nada para dizer, não há nada como a letra de uma música que se gosta.
Talvez todos tenhamos um pequeno diamante dentro de nós que brilha para alguém...



"Remember when you were young, you shone like the sun.
Shine on you crazy diamond.
Now there's a look in your eyes, like black holes in the sky.
Shine on you crazy diamond.
You were caught on the crossfire of childhood and stardom,
blown on the steel breeze.
Come on you target for faraway laughter,
come on you stranger, you legend, you martyr, and shine!
You reached for the secret too soon, you cried for the moon.
Shine on you crazy diamond.
Threatened by shadows at night, and exposed in the light.
Shine on you crazy diamond.
Well you wore out your welcome with random precision,
rode on the steel breeze.
Come on you raver, you seer of visions, come on you painter,
you piper, you prisoner, and shine!"

Pink Floyd

23/03/2005

Há quanto tempo...

Caramba, desde Janeiro que não escrevo nada por aqui... Bem, mas hoje até me sinto mais adulta que nos outros dias... Já posso votar, já sou uma menina grande... Até devia ter vergonha em dizer que só me recenseei aos 19, mas pronto, sou da opinião que, a partir do momento que não faço parte da estatística, ninguém me pode censurar por eventuais críticas ao actual governo.
Fraquezas... Mas por falar em adultos, até já uso óculos para ler e tudo. Que miséria!
E por falar em humor, lembrei-me do Gato Fedorento. Finalmente humor à maneira em Portugal! Será que é desta que alguma boa gente percebe que o Fernando Rocha não tem piada NENHUMA?! Mas gostei particularmente de um comentário do Ricardo Araújo Pereira a respeito das asneiras no humor: comparou o acto de dizer uma asneira a meio de uma piada ao acto de fazer chichi nas calças - sente-se alívio porque o público ri, mas depois fica-se com a sensação de ter feito asneira... Brilhante, meus senhores, brilhante! Vamos ver se alguém me oferece bilhetes para dia 22 de Abril...