...com defeitos e muito para aprender, mas olhando para trás com orgulho no que sou, nos meus princípios e no que aprendo todos os dias com aqueles que me rodeiam...
Obrigado!!!
...com defeitos e muito para aprender, mas olhando para trás com orgulho no que sou, nos meus princípios e no que aprendo todos os dias com aqueles que me rodeiam...
Obrigado!!!
Bela cidade... Desde a Plaza Mayor até à Catedral Nova, esta cidade de estudantes tem realmente muito que conhecer. No entanto, deixo apenas o postal da praxe, porque estou cansadota demais para escrever... :)
"Pela primeira vez desde há muitos, muitos anos, era um dia da semana, de um mês - Junho - que não era ainda de férias mas já era de Verão, e eu estava deitado na areia da praia, quase deserta, com a serra por detrás e um mar translúcido à minha frente, saboreando cada uma das sílabas dessa palavra: de-sem-pre-ga-do. Caminhei até à água, que surpreendentemente não estava fria e era densa e transparente, e mergulhei lá dentro como se entrasse noutro mundo: vinte anos de errância, de erros e ignorância, vinte anos equívocos, afundavam-se agora, devagar, rente à areia e às pedras, no olhar q seguia a sombra fugidia dos peixes e, afinal, tudo se tornava claro e envolvente na luz que chegava filtrada três metros debaixo de água.
E, todavia, eu sempre o soubera: sempre, sempre, me procurei debaixo de água, sempre, em cada Verão, mergulhei nesta luz e neste silêncio, apalpando com as mãos as rochas e as pedras, alisando o dorso dos peixes e a suavidade de veludo das algas e das anémonas, os meus olhos atentos e deslumbrados com cada coisa, o corpo habituando-se à consistência desta liquidez submersa. Sempre soube que debaixo de água me livraria de todos os males do mundo e emergia, novo e liberto, para as suas ciladas e os seus enganos.
Sentei-me depois na esplanada à beira-mar, os olhos pesados de sal e de azul, eu, uma sangria e uma dose de sardinhas assadas, um cheiro a giesta e a medronho que vinha da serra e nada mais - ninguém, nenhum som, nenhuma recordação, nenhuma ameaça, entre mim e a perfeição deste momento.
E lembrei-me de ti, com ternura (ou seria paixão?). A palma das tuas mãos, a pele dos teus pulsos, os dedos esguios e longos, os dentes brancos num sorriso meio tímido, meio atrevido, o teu riso, o teu humor, a tua inteligência cristalina. Pensei telefonar-te, mas estas coisas não se dizem pelo telefone. Guardei-te para mais tarde, para quando os teus olhos pousassem sobre mim, para quando a tua mão me limpasse o suor da testa, a tua boca limpasse os vestígios de sal da minha pele.
Em vão, como vês, me esforcei por não me distrair. Para passar por ti como se passa por um episódio, por um acidente à beira da estrada, por uma ilusão de água num mar sem fim de areia. Eu queria só a solidão da solidão, o silêncio submerso dos dias vazios e sem destino, a consistência da água e a evidência das pedras. Eu queria um mundo sem ti nem ninguém mais, uma vida - tão merecida - feita de egoísmo e de instantes impartilháveis. Mas tu és como a anémona que segue a corrente que passa, tu és a lapa presa à rocha, o sulco na areia durante a maré vazia que indica o caminho de regresso ao mar, tu és a densidade da água dentro da qual eu me reencontro e reconstruo.
Assim, saí da esplanada, sentei-me "ao volante do meu Chevrolet" pela estrada da serra e subi até ao convento de onde o mundo inteiro se alcança. Veio-me o desejo de ser monge, ali onde a vida não chega, ou lagarto sobre a pedra onde me sentei. Um desejo absoluto de nada. Olhei ao longe este mar da Grécia e esta luz de eternidade, vi pedras e giestas e pinheiros e golfinhos ao fundo, vi tudo o que me manteve cativo até hoje e toda a liberdade à minha frente, olhei o passado e o futuro, o Norte e o Sul, e levantei os braços para voar sobre tudo isto, mas estava preso. Este Verão é teu."
in "Não Te Deixarei Morrer, David Crocket", de Miguel Sousa Tavares
Porque gostei; porque me fez lembrar de ti...
"E escrevi o teu nome e o teu número de telefone numa página da agenda do mês de Fevereiro. E, ao escrevê-lo, sabia que era uma despedida, mas todo o mês de Março nos arrastámos na despedida, como caranguejos na maré vazia. Sem ti, lancei outras raízes, construí pátios e terraços, fontes cujo som deveria apagar todos os silêncios, plantei um pomar com cheiro a damasco, mandei fazer um banco de cal à roda de uma árvore para olhar as estrelas no céu, um caminho no meio do olival por onde o luar pousaria à noite, abóbadas de tijolo imaginadas pelo mais sábio dos arquitectos e até teias de aranha suspensas do tecto, como se vigiassem a passagem do tempo. Nada disso tu viste, nada te contei, nada é teu. Sozinhos, eu e a aranha pendurada na sua teia, contemplámo-nos longamente, como quem se descobre, como quem se recolhe, como quem se esconde. Foi assim que vi desfilar os anos, as paredes escurecendo, um pó pousado entre as páginas dos mesmos livros que fui lendo, repetidamente. Heathcliff e Catarina Linton destroçados outra vez pela minúcia do tempo.
Como explicar-te como tudo isto se tornou alheio, como tudo te pareceria agora estranho, como nada do que foi teu vigia o teu hipotético regresso? Ulisses não voltará a Ítaca e Penélope alguma desfará de noite a teia que te teceste.
E arranquei a página da agenda com o teu nome e o teu número de telefone. Veio a seguir Abril e depois o Verão. Vi nascer a flor da tramocilha e das buganvílias adormecidas, vi rebentar o azul dos jacarandás em Junho, vi noites de lua cheia em que todos os animais nocturnos se chamavam rãs, corujas e grilos, e um espesso calor sobre a devassidão da cidade. E já nada disto, juro, era teu.
E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter.
Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água do rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo poderia ser meu para sempre."
in Não Te Deixarei Morrer, David Crocket de Miguel Sousa Tavares
Achei bonito, bem escrito e realista... não por me lembrar algo específico, mas por ir de encontro a muito do que às vezes se sente em relação às coisas e às pessoas.
Celebra-se hoje o aniversário da morte de Elvis Presley. O ícone dos anos 50-70 marcou para sempre a história do Rock. Dizem muitos que este ainda vive... Bem, quem sabe... :)
Elvis has just left the Building! :)
Hoje, em pesquisas pelo YouTube, tropecei nesta pérola que me deixou com a lagrimita no canto do olho... Estes foram os meus desenhos animados favoritos durante algum tempo... :) De quando em vez ainda paira a música do genérico pela minha cabeça... "Clementine, quand tu fais... blá... blá... blá..." (e aqui a memória falha...) :) Eles até têm episódios completos no YouTube!
É um privilégio senti-lo... faz-nos felizes quando sabemos ser recíproco... mexe connosco.
Com ele aprendemos a aproveitar o momento, vemos o mundo com outros olhos; sorrimos sem razão, choramos sem razão... e unicamente porque o sentimos.
Não sabemos muitas vezes lidar com o que ele nos traz, podemos até sofrer por isso... fazer sofrer.
Mas é um sentimento sublime, que nos transcende; que nos preenche; que nos completa; que nos torna mais humanos...
... o Amor.
Tarde, mas descoberto a tempo de passar o resto do Verão ao som de boa música... Nitin Sawhney, produtor e compositor que dispõe dos sons do mundo de forma a criar do melhor chillout que já ouvi até hoje...
Autor da banda sonora de diversos filmes, guitarrista flamenco, pianista de jazz e música clássica, Sawhney revela-se artista multifacetado e de talento inigualável. Um trabalho que vale a pena (re)conhecer.