"O casamento segundo uma casada de fresco
Assim de repente não há diferença nenhuma em estar casada ou viver em pecado, amantizados, amancebados, amigados e o que mais houver no léxico. Pelo menos para nós os dois. A única coisa que me lembra que entrei para esse clube é quando vejo a aliança na minha e na mão dele. Ainda me custa a acreditar que o fiz, que disse sim, que assinei um papel (na verdade já não se assina coisa nenhuma), que pus uma aliança no dedo. Eu que quase todos os dias me sinto como uma miúda e que nada tenho a ver com a imagem de mulheres casadas que fui construindo à medida que crescia. Das senhoras vestidas de forma discreta, com filhos pela mão, cujo cabelo vai clareando cada vez mais, no início são só nuances louras mas depois é o cabelo todo, os anéis que usam são de senhora, assim como os sapatos e as malas e caralho. É tudo compostinho e têm todas mais de 40 anos mesmo que não tenham. Olho para elas e fico aborrecida, entediada, faço o sinal da cruz e fujo a passos largos. A mim é que não me apanham porque eu faço o que eu quero e durmo com quem eu quero parafraseando aquela banda de merda que dá pelo nome de Miúda. Mas agora sou casada, não tenho 40 anos, nem mesmo quando os tiver, não clareei o cabelo, não uso sapatos de senhora, os meus anéis são grandes e de prata, os meus brincos são coloridos e faço o que eu quero e durmo com quem eu quero: o meu marido. Ma-ri-do. A mudança deu-se lá fora. Fora desta bolha Actimel quentinha que mais parece um cobertor (e é tão bom chegar a casa e é tão bom quando ele chega a casa). Parece-me que as pessoas me começaram a ver com outros olhos. Puseram os óculos do respeito que só se tem com as mulheres casadas, uma coisa que ficou do século XIX, e de repente eu sou uma pessoa crescida e como deve ser. Como se de repente eu fosse mais capaz, de maior confiança, para ser levada a sério. E dá-me vontade de rir. Esta sociedade é tão absurda e as pessoas tão cheias de merdas e preconceitos que nem sei. Estar casada só é melhor do que viver junto porque tivemos uma festa incrível e todos os que gostamos à nossa volta tão felizes como nós. E porque recebemos prendas e viajámos. De resto, a maravilha é a mesma."
2 comentários:
Pois...realmente para os dois o dia a dia deve continuar muito semelhante. Mas por outro lado, o casamento para outras pessoas representam uma mudança aterradora: é o mudar de casa; é o fazer o "enxoval"; é o organizar casamento; é o fazer lista de compras necessária para encher uma casa e despensa para possibilitar a vida a dois; é o mudar de cidade; é o aprender a dividir despesas e multiplicar o dinheiro para a sustentabilidade ser possível... Isto agravado com uma entrega de tese, mudança de contrato de trabalho e medidas de austeridade...deixa uma pessoa a pensar "ainda penso como uma criança, não podemos viver juntos para ver se isto resulta?"
Neste texto, o que fica no ar é o que se vê de fora para dentro, e não o contrário. A credibilidade, maturidade ou o que se lhe quiser chamar que nos é atribuída pós casamento que não faz muito sentido. Somos as mesmas pessoas, não foi por termos casado que mudámos a nossa forma de ser/estar. Os nossos casos são distintos, porque a vossa mudança é mais brusca. Não deixa, contudo, de ser sempre para melhor e, por isso, não há nada a temer! ;)
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