06/03/2012

O que se escreve por aí #1

"Corro muitos riscos por querer ter negócios por conta própria, aposto que se me espetar contra a parede ninguém aparece para me dar uma palmadinha nas costas e soltar um "que bem que fizeste em torrar o teu dinheiro e horas da tua vida de forma tão engraçada". Podia também já estar casado um par de vezes, não duvido que uma relação estável tenha os seus encantos. Ou podia ver televisão horas a fio, se não preferisse canalizar o meu tempo para assuntos diversos (li o "As travessuras da menina má" do nosso amigo Mario Vargas-Llosa em apenas 6 dias, na semana passada ... que saudades de ler um livro tão bom que nos prenda como uma droga). Podia até não ter saído à noite no Sábado, mamado aquilo que se convencionou chamar de "uma biolência" e depois no Domingo ter feito 3 horas de bicicleta até Alfama. Somos a nossa verdade, as escolhas que fazemos. A minha avó (sendo absolutamente certo que a vóvó é a "número um") costumava dizer, antes da demência nos separar para sempre, que cada um tem que gostar de si próprio antes dos outros gostarem nós. O que significa que nada ou ninguém nos vais defender tão bem como nós próprios. Esperar que os outros, mesmo os que nos querem bem, façam algo por nós, a começar por decidir, é perder o controlo do ser, do existir. A última mulher que amei tinha mais 10 anos que eu ... cabe na cabeça dos outros? who cares, era o que eu queria e era o que ela queria.

Se queres ser chef na cozinha, sê-lo. Se queres ter uma galeria de arte, força. Se queres emigrar, estuda a melhor maneira de o fazer e toma decisões concretas nesse sentido. Sexo de outra forma? Ir ao teatro na 6ª? Poupar o dinheiro para dias melhores? Mudar de penteado? Mandares para as urtigas aquela pessoa que há muito tempo só faz merda? Nunca é tarde. Experimenta dimensões de ti sem medo. Não gostas? não comas. Os outros acham mal? Pois, mas és tu que mandas, és tu que respondes, és tu que sabes o que é estar lá. Assume. Faz o que tiveres a fazer com amor, com espírito e com entrega. Vais perder, vais ganhar. O que os outros acham que é cool varia ao longo da vida e não releva. Não era o que querias? Recomeça. Como aquelas linhas maravilhosas do nosso amigo Torga (já antes citadas neste blog manhoso):

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga, Diário XIII"


Pulha Garcia em O Bom Sacana


No fundo, aquilo a que nos resumimos.

1 comentário:

Pulha Garcia disse...

Interessante reler o que escrevi noutro blog. Obrigado. (e adoro esse pedaço de Torga, talvez o melhor escritor Português de sempre)